19
Out 09
publicado por Marco Moreyra, às 17:50link do post | comentar

 

«a Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana» (...) «A Bíblia passou mil anos, dezenas de gerações, a ser escrita, mas sempre sob a dominante de um Deus cruel, invejoso e insuportável. É uma loucura!» Entrevista de José Saramago à Lusa em 18.10.2009

 

O proselitísmo ateísta de Saramago não é novidade. O seu ateísmo militante resulta da intolerância para com a religião e da defesa de um totalitarismo intelectual. Aquilo que o move é mais que uma ideologia política. De outra forma não se poderia compreender que aquilo que Saramago quer fazer com a sua provocação a um livro sagrado para judeus e cristãos é tão somente um acto de propaganda da face mais negativa do capitalismo desenfreado.

 

Neste caso partícular, indiferente ao paradoxo, o escritor comunista utiliza a forma mais arcaica de propaganda para um fim capitalista. O alvo: a religião. O fim: a venda do seu próximo romance. A polémica acende uma espécie de fogueira de vaidades com que pretende incendiar a opinião pública e incitar os media a falarem do seu "Caim", claramente mais do que este merece.

 

Saramago sabe que as banalidades boçais com que entope os jornais, rádios e TV's são pérolas mediáticas, apesar de estarem ao nível das crises religiosas da adolescência. "A mim não me enganas tu" é o refrão de uma música que a minha avó me costumava cantar e serve que nem uma luva, para uma resposta popular apropriada à "demência" vinda de Lanzarote.

 

Tristes daqueles que o levam a sério, porque o que este faz é puro calculismo financeiro. Como defendo a máxima que aqueles que são (só) imbecis devem ser ignorados, não leio, nem compro... a não ser que seja para fazer aquilo que o João coloca no seu blog "A Geografia das Curvas".


14
Set 09
publicado por Marco Moreyra, às 09:34link do post | comentar

 

Imagino que Bernard Schlink, quando escreveu em 1995 «Der Vorleser», provavelmente não imaginaria que seria adaptado pouco mais de 10 anos depois, principalmente depois de alguma onda de critcismo que acusava o romance de “pornografia cultural”, sob o ideal de que o romance simplificava a história e compelia os leitores a identificarem-se com os perpetradores nazis.

 

Acusações à parte, Schlink escreve um livro que não tive a oportunidade de ler, por pura ignorância, uma vez que está editado em português nas Edições ASA, e Stephen David Daldry, perspicaz, decide adaptar aquele que terá sido, quanto a mim, o melhor filme de 2008. Mais do que isso, conseguiu aquilo que ainda não tinha conseguido com «Billy Elliot» e «As Horas», apesar dos diversos prémios que as películas receberam – criar uma obra-prima.

 

A história desta paixão proibida tem, curiosamente, como foco principal o pré e pós-romance entre as duas personagens. Os crimes que Hanna cometeu durante a II Guerra Mundial e o seu julgamento.

 

Durante a relação, pouco duradoura, nada levaria Michael, o jovem estudante de direito a pensar que a sua relação com Hanna era algo mais que uma relação pouco ortodoxa com uma mulher com mais do dobro da sua idade. Havia de facto, algo mais – a culpa de uma participação activa numa das maiores fábricas de morte do Holocausto.

 

Mas Hanna, não é nem mais nem menos, que mais uma cidadã alemã que no início da sua vida adulta fez parte de um dos maiores crimes da história da humanidade. Não é um monstro! É um ser humano que, como tantos outros, teve sobre si a culpa de compactuar com um regime totalitarista e uma cultura genocída. Como poucos foi considerada culpada pela justiça dos homens. Serviu para ser um símbolo do castigo e da vergonha nazi. Com ela, a culpa de muitos acabou por morrer solteira. Talvez porque fosse demasiado “utópico” para os homens castigar todos os implicados. Essa é grande mensagem do romance: A culpa conjunta não é, de facto, castigada. Em detrimento da vergonha e responsabilidade colectiva escolhe-se um cordeiro para falsa expiação. O cordeiro é sacrificado e passa a viver-se na ilusão que se fez justiça. Com isto deve ficar claro que Hanna não é uma mártir, é uma criminosa atroz. Em nada diferente de muitos, repito, que não foram acusados. Só é diferente por ter preferido a honestidade à mentira.

 

O exercício que «O Leitor» obriga é desconfortável, mas necessário para entender que há mensagens que não servem para resolver ou entender males irreparáveis, mas antes para nos ensinar que não dispomos de uma forma padronizada de sentir e pensar. É um exercício de pluralismo intelectual, cultural e emocional, que embora difícil, no ensina a crescer nessas três áreas. É por isso que para mim foi o melhor… os Óscares preferiram “aquele do concurso”.

 

 

Nota: Kate Winslet ganhou, com muito mérito, o prémio de Melhor Actriz Principal.


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